Pesquisadores e cientistas brasileiros, entre eles um sul-mato-grossense, começam uma nova jornada na detecção da Covid-19. A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) validou a realização de testes nacionais para que o Brasil não dependa tanto dos kits importados. Com isso, a universidade e também laboratórios privados podem identificar o novo coronavírus com materiais e insumos 100% brasileiros.
Robson Tramontina, que saiu de MS aos 17 anos e hoje, aos 29, mantém uma startup de produção de insumos para exames em Campinas (SP), conta ao Campo Grande News que em parceria com a instituição de ensino paulistana, passará a produzir enzimas para os kits nacionais.
âA Unicamp montou uma força-tarefa para conseguir, junto com o Ministério da Saúde e empresários, produzir o kit aquiâ, destaca. A validação chegou hoje, mesmo com a expectativa que a resposta positiva de início dos testes saísse dentro de 20 dias.
Tramontina explica que a celeridade decorre porque âprecisa ter como fazer esses testesâ, diante da atual situação nacional de avanço do novo coronavírus. A força-tarefa foi montada em 17 de março.
Ele ressalta que a necessidade é tamanha, que ainda que tais kits não sejam os mais adequados â já que não tám validade internacional â há urgência em seu uso.
âNão importa que não seja o teste ideal, autorizado, validado internacionalmente, um teste padrão. Chegou num ponto que precisa fazer e o que importa é que esses testes funcionem e os laboratórios validem entre si os resultadosâ.
Com essa validação da Unicamp, somente a Ecra Biotec, startup de Robson, vai disponibilizar, a cada dez dias, 100 mil reações para identificação da covid-19 através do teste molecular, o RT PCR, que é o que já é feito no Brasil, mas através de kits importados, já que, até então, não havia produção nacional de todos os componentes necessários.
âEsse testeâ, explica o cientista sul-mato-grossense, âé feito com amostra da secreção com coleta via Swab e o resultado demora de um a dois dias para sairâ. Tramontina ainda detalha que esse modelo de teste âdetecta o vírus antes mesmo dele manifestar os sintomasâ.
Em Mato Grosso do Sul, os kits para exames de detecção do novo coronavírus são do modelo RT PCR e são compostos por uma amostra positiva do material genético do vírus, uma mistura otimizada com componentes (enzimas, primes ou sondas e insumos químicos), além do Swab, que nada mais é que um cotonete específico para esse tipo de exame.
Vale ressaltar que esses kits são diferentes dos chamados testes rápidos, que também chegaram ao Estado, mas ao invés de testar a secreção comprometida, identificam os anticorpos virais, através do sangue.
O cientista ressalta que as enzimas que ele produz em sua startup servem tanto para testes relacionados ao coronavírus, quanto para outras detecções, como HPV, tuberculose, câncer e mesmo testes de paternidade.
âJuntando nossas enzimas, primers e sondas de outras empresas e outros insumos mais também produzidos aqui, o teste fica mais baratoâ, comemora.
CENíRIO ATUAL â Ao avaliar o estágio do sistema científico brasileiro em relação a atual epidemia de coronavírus no Brasil, Robson afirma que em anos anteriores, houve investimento forte em ciáncia e também devido outras crises, como a do vírus Zika, tudo isso âpreparou os cientistas para trabalharem com vírus e testes molecularesâ.
Assim, há pessoal capacitado, âmas os investimentos caíram e isso prejudica o tempo-resposta ao coronavírusâ. Isso porque, se houvesse mais investimento, a produção dos kits, por exemplo, já seria uma realidade.
Por fim, Tramontina, que é natural de Itaquiraí, a 404 Km de Campo Grande, analisa que há onda de negaciosismo í ciáncia no Brasil, o que acaba negligenciando o trabalho científico e os próprios pesquisadores.
âO desmonte da ciáncia e também da saúde prejudica muitas pessoas por causa de medidas sem base científicaâ.
Fonte: Lucia Morel/ Campo Grande News
2020-04-08 08:38:00