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quinta-feira, 28 de março de 2024

Visita de Lula à China marca novo momento da diplomacia brasileira

Presidente defende independáncia das tradicionais potáncias mundiais.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Marcos Uchôa/EBC

A visita do presidente Lula í  China começou em Xangai, cidade que rivaliza com Pequim, a capital.

Economia e Governo. Dinheiro e poder. Na China, tudo isso está ainda mais interligado do que já é normalmente. Começar o dia indo í  sede do banco dos Brics – bloco econômico formado por Brasil, Rússia, índia, China e ífrica do Sul – foi um sí­mbolo perfeito dessa viagem, porque essa instituição une esses dois aspectos.

í‰ um banco especial porque existe por razões econômicas mas também polí­ticas. O NDB, sigla em inglás de Banco de Novo Desenvolvimento, é mais conhecido como banco dos Brics. Os paí­ses-membros desse bloco representam 40% da população mundial, um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do planeta, cerca de 25 trilhões de dólares.

E também é uma tentativa de criar uma voz alternativa ao tradicional mundo rico americano e europeu.

Esse banco é o instrumento financeiro que busca ajudar paí­ses em desenvolvimento. Para o Brasil, estão reservados um bilhão e setecentos milhões de dólares. Aguardaram a visita de Lula í  Xangai para a posse de Dilma Rousseff, economista e com uma longa carreira, na presidáncia do banco. A nomeação de Dilma foi um sinal claro do prestí­gio de Lula e do que o Brasil representa nesse grupo.

Acompanhada de 2 diretores, um russo e outro chinás, Dilma transparecia a alegria de quem está assumindo um cargo de muita relevância no cenário internacional. No discurso de posse, ela disse ter uma conexão antiga com o banco, pois foi em 2014, numa reunião do Brics em Fortaleza, quando ela era presidenta do Brasil, que foi decidida sua criação.

Afirmou também que a ajuda a paí­ses mais pobres, em desenvolvimento, é uma prioridade e que o banco desempenha um papel importante na visão de um mundo multilateral. Essa expressão, mundo multilateral, é uma vontade polí­tica de questionar o domí­nio americano que se traduz não só em poderio militar, mas também no peso dos Estados Unidos em instituições como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial que, tradicionalmente, eram os únicos com cacife suficiente para socorrer paí­ses em dificuldade financeira, mas também para impor condições que muitos acham injustas.

No seu discurso, o presidente Lula salientou um outro aspecto que também sinaliza concretamente uma influáncia na direção de um mundo mais plural. Lula disse que os paí­ses não precisam ficar sempre atrelados ao dólar nas suas transações internacionais. Que é possí­vel fazer um comércio direto usando as moedas locais, que fazer as coisas de uma maneira diferente e com muita paciáncia é uma marca dos chineses. E que o banco tem um potencial transformador para o mundo.

Diante da delegação brasileira composta de dezenas de polí­ticos, entre governadores, senadores e deputados, Lula também falou do Brasil. Disse que nunca poderia imaginar a volta da fome no nosso paí­s e que o último governo destruiu tudo o que foi construí­do nas áreas de meio ambiente, ciáncia e cultura.

Encerrou seu discurso pedindo um mundo mais generoso e com mais fraternidade para derrotar o discurso do ódio e o individualismo. Distanciar-se do dólar tem consequáncias na relação com os Estados Unidos. Pode ser uma visão econômica racional, mas também com carga polí­tica.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Huawei. Xangai – China. Foto: Ricardo Stuckert/PR

E, í  tarde, a visita í  Huawei, empresa chinesa de telecomunicações, uma das maiores do mundo, de certa forma botou mais lenha nessa fogueira.

Isso porque, embora a Huawei já esteja no Brasil há mais de vinte anos, ela atualmente faz parte de uma briga entre China e Estados Unidos. O governo americano proibiu a Huawei de vender seus produtos por lá, o que causou um prejuí­zo de mais de 30 bilhões de dólares para os chineses.

í‰ uma briga sobre tecnologia, patentes, invasão de privacidade, espionagem. As acusações são polámicas e, portanto, a visita do presidente do Brasil neste momento pode ser lida de várias maneiras. Para a China, tem um gostinho de vitória e, necessariamente, para os Estados Unidos um sabor de derrota.

Economia, polí­tica, e muito cuidado na diplomacia. Afinal, são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil. Mas o principal está por vir.

Nesta sexta-feira, Lula, que já está em Pequim, se encontra com o lí­der chinás Xi Jinping í  tarde. Os dois estão começando seus terceiros mandatos. Os dois são pesos pesados no cenário da polí­tica internacional. Ambos gostariam de ter o apoio do outro em vários temas, de meio ambiente í  guerra da Ucrânia, por exemplo.

Uma boa relação entre eles pode render muito para o Brasil, para a China e até para o mundo.

2023-04-14 08:31:00

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