Tendo avançado cerca de 80% na área colhida do milho segunda safra em Mato Grosso do Sul, o frio considerado tardio no Estado evitou mais um prejuízo para o ciclo 2023/2024. A produção da cultura no Estado enfrenta desafios diante de uma estimativa de queda de 34,7% em relação ao ano anterior.
De acordo com dados do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga MS), executado pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), a produção prevista é de 9,285 milhões de toneladas (-34,7%) para a safra 2023/2024. A área permanece com uma expectativa de redução de 5,82% em relação ao ciclo anterior (2022/2023), atingindo uma área de 2,218 milhões de hectares.
Perante o cenário desafiador, e achegada de uma frente fria ao Estado, o pesquisador e agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello explica que o inverno tem sido bastante quente em Mato Grosso do Sul, entretanto a recente semana fria trouxe uma lembrança das baixas temperaturas que pareciam mais comuns no passado.
“Em um estado eminentemente agrícola, a preocupação imediata recai sobre os cultivos. Felizmente, já ultrapassamos o período crítico em que as culturas anuais poderiam ser mais suscetíveis aos efeitos do frio. Se um evento climático tivesse ocorrido em junho ou julho, poderia ter causado grandes prejuízos à principal cultura dessa época, o milho segunda safra”, revela Comunello.
O agrometeorologista ressalta que diversos pontos do estado registraram geadas que, mesmo que leves, podem impactar negativamente a produção agrícola comumente resultando na redução da oferta e no aumento dos preços durante este período.
Comunello destaca que para a tranquilidade dos produtores, prevê-se um aumento da temperatura nos próximos dias. “À medida que nos aproximamos da primavera, é menos provável que ocorram episódios de frio intenso, embora a possibilidade de novas geadas ainda não esteja totalmente descartada. Historicamente, as geadas em agosto são menos frequentes do que em junho e julho, mas ainda podem ocorrer até setembro”, detalha.
Mesmo desviando de mais um desafio imposto pelo clima, a produtividade estimada para o milho safrinha em MS é de 69,77 sacas por hectare, indicando uma retração de 30,7% frente à safra passada.
LA NIÑA
Após a insciência de um (fenômeno) El Niño considerado forte sobre a região Centro-Oeste, responsável pelo ciclo climático adverso, especialistas apontam a chegada do fenômeno La Niña. Contudo, durante a transição, há uma fase neutra, com 83% de probabilidade, caracterizada por temperaturas oceânicas normais.
Para os meses de julho, agosto e setembro, a probabilidade de ocorrência do La Niña é apontada como superior a 49%. Fenômeno pode impactar a produção agrícola da segunda metade do ano devido a condições climáticas desfavoráveis.
O agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste, Éder Comunello lembra que o que tem gerado maior preocupação em relação ao clima é a confirmação de um cenário de La Niña a partir do final do próximo mês, visto que atualmente, ocorre um período de neutralidade, que deverá ser substituído por um período de La Niña e que poderá afetar diretamente a próxima safra de verão.
“Em Mato Grosso do Sul, a La Niña está associada a chuvas menos frequentes e inferiores à média, o que é particularmente preocupante, dado que, nos últimos anos, temos observado uma redução na disponibilidade hídrica e temperaturas mais altas, potencialmente agravando os problemas ao longo do ciclo das culturas”, detalha Comunello.
COLHEITA
Conforme o levantamento do Siga MS, até o último dia 2 de agosto o processo de colheita atingiu 77,9% da área plantada em Mato Grosso do Sul, o que representa aproximadamente 1,7 milhão de hectares.
Ainda segundo a Aprosoja-MS a colheita está mais avançada na região norte do Estado, com uma média de 92,9%. Na região sul, a média é de 77,6%, enquanto a região centro é menor área colhida, onde a média atingiu 70,4%. Em oposição, municípios como Alcinópolis, Camapuã, Paraíso das Águas e Pedro Gomes já concluíram o processo de colheita.
A porcentagem de área colhida é 51,7 pontos percentuais superiores em relação à segunda safra 2022/2023, para a data de 2 de agosto. Há época, o percentual era de pouco mais de 26% da área total colhida. “ Esse aumento se deve à seca prolongada enfrentada pelo Estado, que acelerou o ciclo das plantas, levando à maturação fisiológica precoce”, explica o coordenador técnico da Aprosoja de MS, Gabriel Balta.
Os números comprovam as perdas no ciclo 2023/2024 para o milho safrinha, visto que a oscilação climática é apontada como uma das principais causas da quebra. Especialistas destacam que períodos prolongados de seca impactaram negativamente as colheitas, especialmente entre março e abril, com estresse hídrico variando de 10 a 30 dias. Mais recentemente, entre abril e maio, houve novos períodos secos de 10 a 20 dias sem chuvas.
Danilton Flumignan, agrometeorologista da Embrapa Agropecuária Oeste, explica que julho registrou temperaturas significativamente mais altas do que o normal para a época.
“Tivemos aproximadamente 30 a 40 dias com condições extremamente secas, o que é particularmente crítico para o milho safrinha, que necessita de umidade nesta fase crucial. Infelizmente, essa safra começou sob condições desfavoráveis devido ao calor intenso e à falta de chuvas,” afirma Flumignan.
Gabriel Balta complementa pontuando que o estresse hídrico foi a principal causa da perda de potencial produtivo na segunda safra de milho de 2023/2024. “Esta condição adversa impactou uma área total de 768 mil hectares no estado de Mato Grosso do Sul. Além das baixas produtividades observadas no campo, também registramos perdas totais de produção”, conclui o coordenador técnico da Aprosoja.
MERCADO
Entre os dias 22 e 26 de julho, o preço médio da saca de milho em Mato Grosso do Sul foi de R$ 45,72. Entre 29 de julho e 2 de agosto, o valor subiu para R$ 45,84, enquanto ontem (13), a saca foi cotada a R$48,38, refletindo um aumento de 5,82% no período considerado.
Conforme informações da Granos Corretora, até a segunda semana de agosto, Mato Grosso do Sul já havia comercializado 30,50% da produção de milho da segunda safra 2023/2024. Esse índice representa uma queda de 4,12 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2023.
Mateus Fernandes, analista de Economia da Aprosoja/MS, comenta que com o custo total de produção estimado em cerca de 120 sacas por hectare e uma produtividade média atual de 69,77 sacas por hectare, os produtores precisam superar essa estimativa para obter lucro. “Caso contrário, poderão enfrentar prejuízos com o investimento na safra”, projeta.