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sábado, 28 de setembro de 2024

MS tem o 2º maior número de terras com as demarcações em risco

Em todo o Brasil há 238 processos de demarcação de terras indí­genas, de diferentes etnias, que ainda não tiveram uma conclusão. Mato Grosso do Sul, que abriga a 2ª maior população indí­gena do Brasil, também contempla o 2º maior número de territórios em processo de demarcação, segundo dados da Funai (Fundação Nacional do índio). Agora, estão ameaçados.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL), que já mudou a responsabilidade de demarcar terras indí­genas, antes com a Funai, para o Ministério da Agricultura, também declarou “que não haverá mais 1 cm de terra para í­ndios” e, recentemente, afirmou que todos as terras homologadas nos últimos 10 anos seriam revistas. As declarações deixam comunidades em territórios ainda não homologados em estado de apreensão.

Em Mato Grosso do Sul são 16 territórios em estudo, 4 delimitados e 9 declaradas, o último processo antes da homologação. Dos 9 territórios declarados, reivindicam demarcação 4 etnias: Terena, Guarani Kaiowá, Ofayé-Xavante e Guarani Nhandeva.

Comunidade internacional – Uma das terras declaradas é a dos Terena, Cachoeirinha, em Miranda, a 201 km de Campo Grande. São 36.288 hectares declarados, mas os indí­genas, pouco mais de 7 mil, ocupam uma reserva de 2688 hectares. Uma das lideranças locais, Lindomar Terena, afirma que a comunidade já recorreu até a Justiça para a conclusão do processo.

“Atualmente não há nenhum impedimento judicial, tanto é que a Justiça está determinando que seja feito uma perí­cia na fazenda Capão Verde, e no final de tudo acaba se comprovando que é terra indí­gena. A gente ingressou na Justiça para que a Funai seja obrigada a colocar os marcos fí­sicos, esse processo está correndo na Justiça, mas não temos decisão”, comenta. 

Com a falta de espaço e demora na demarcação, a terra sofre um processo de áxodo rural. Muitos moradores da Cachoeirinha vivem, hoje, em Campo Grande, nas aldeias urbanas. “Ocorre por terem pouca terra, a reserva é uma área de 2688 hectares, para uma população de 7 mil, o povo Terena sempre viveu da agricultura, se não tem espaço obriga a deixar a aldeia”, opina.

Agora, explica o Terena, resta recorrer aos “mecanismos internacionais” caso os direitos indí­genas não sejam respeitados. “A gente fica na verdade sem saber para que lado a Justiça funciona, só cobramos que seja implementado a lei. Não tem uma polí­tica de estado para dar continuidade. Agora, a gente tem ouvido muito que o governo quer revisar várias terras demarcadas, homologadas, registradas nos últimos 10 anos, com certeza nós vamos acionar os mecanismos internacionais”, relata.

Uma espera de mais de 20 anos – Há mais de 20 anos a terra indí­gena dos Ofayé-Xavante espera pela demarcação do território de 1.937,6250 declarado, para abrigar cerca de 100 pessoas da etnia, além de indí­genas Guarani e Kaiowá que também vivem na aldeia Anodi, em Brasilândia, a 355 km de Campo Grande.
Antropólogo responsável pelos estudos que identificaram o território, Carlos Alberto dos Santos Dutra explica que o processo começou em 1992.

“Tinha uma ação na Justiça e agora que saiu o resultado, então o processo está aberto, pronto para ser assumido. Hoje a aldeia possui 110 pessoas morando, divididos em trás etnias, os Ofayé foram agregando outras tribos, chegou muitos Guarani e Kaiowá, está nascendo uma nova cultura”, comenta.

Enquanto aguardam a demarcação final, a cultura vai mudando, agregando novas caracterí­sticas. Segundo o antropólogo, há cerca de 35 pessoas da etnia Ofayé no local. “A cultura é transmitida pela mãe, há grande quantidade de mulheres Kaiowá casando com homens Ofayé”, explica ele, sobre as mudanças na transmissão da lí­ngua e costumes.

Fonte: Dourados News

2019-01-16 08:09:00

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