Coronel Sapucaia e Paranhos, duas das mais pobres cidades de Mato Grosso do Sul, continuam na lista das mais violentas da fronteira do Brasil com o Paraguai, segundo relatório preliminar do Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras), divulgado ontem, 14.
Assim como ocorre com outras cidades fronteiriças, Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande, e Paranhos, distante 469 km da Capital, estão entre aqueles municípios que apresentam a pior estrutura educacional e de saúde e menos oportunidades de emprego formais.
âHá uma correlação direta entre a crescente violáncia nas localidades e o abandono escolar, a falta de qualificação profissional e oportunidades para os jovensâ, disse í Agáncia Brasil o presidente do instituto, Luciano Stremel Barros.
Segundo ele, os índices de homicídios relativos a 2016 são âalarmantesâ na fronteira entre Foz do Iguaçu (PR) e Porto Murtinho (MS). Em 2016, Foz do Iguaçu teve 99 assassinatos â taxa de mortalidade por violáncia de 37,5 vítimas por grupo de 100 mil habitantes.
Mas a liderança entre as 32 âcidades-gámeasâ avaliadas â que ficam lado a lado na fronteira de países diferentes, como Ponta Porã, por exemplo â pertence a Paranhos.
A cidade de 12,5 mil habitantes aparece como a mais violenta. Com 15 homicídios registrados em 2016, o município sul-mato-grossense tem a taxa de letalidade mais alta, com 109,7 assassinatos por 100 mil habitantes.
A vice-campeã no ranking da violáncia é Coronel Sapucaia, de 14 mil habitantes e vizinha de Capitán Bado, uma dos principais bases do crime organizado radicado em território paraguaio.
A cidade tem taxa de 67 homicídios por grupo, embora a situação tenha melhorado nos últimos anos. Foram 14 assassinatos em 2013 (ou 95,84 homicídios por 100 mil habitantes) e 10 ocorráncias em 2016.
Relatório preliminar obtido pela Agáncia Brasil mostra que o número de homicídios nas cidades fronteiriças é inferior ao registrado em Queimados (RJ).
Município mais violento do país, Queimados aparece no mais recente Atlas da Violáncia, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada com taxa de 134,9 homicídios e mortes violentas por 100 mil habitantes.
De acordo com a publicação do Ipea, em 2016, Paranhos chegou a uma taxa de 109,7 homicídios para cada grupo de 100 mil moradores. Em Coronel Sapucaia ocorreram 73,7 homicídios por cada grupo de 100 mil habitantes. No caso de Foz do Iguaçu, os números dos dois institutos coincidem.
âA realidade das fronteiras é esta. Sofremos com isso, e tanto as autoridades estaduais quanto as federais já estão cientes. í um grande desafio para todosâ, disse o secretário municipal de Paranhos, Aldinar Ramos Dias. Segundo ele, em geral as vítimas não moram na cidade. âAssassinato de moradores é algo muito raroâ. Reconhece, no entanto, que muitos homicídios não são esclarecidos.
O diagnóstico final do Idesf sobre a situação nas cidades fronteiriças deve ser divulgado na próxima semana. Além de um retrato sobre segurança pública, o documento trará conclusões sobre os eixos que o instituto considera fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico da faixa de fronteira: educação, saúde, emprego/ renda e finanças.
âVoltamos a alertar que, se não houver uma estratégia política integrada para a fronteira, o problema tende a se agravar, com reflexos para todo o paísâ, afirmou Luciano Barros.
Ele chama a atenção para o crescente poder das organizações ;transfronteiriças;, como o contrabando que cruza as fronteiras, ;alimentando a violáncia e ajudando a armar as facções criminosas;.
Guerra de facções â í Agáncia Brasil, a assessoria do governo do Mato Grosso do Sul informou que a violáncia em Paranhos, Coronel Sapucaia e Ponta Porã é resultado da disputa entre as facções criminosas brasileira que se instalaram em municípios paraguaios próximos. O estado vem reforçando a presença das forças de segurança pública, suprindo o que classifica como âausáncia das forças federaisâ na região.
Segundo o governo, o primeiro resultado é a maior apreensão de drogas, que, em 2017, cresceu 42% em comparação ao ano anterior, saltando de 300 toneladas para 427,5 toneladas.
Ao mesmo tempo, o governo sul-mato-grossense garante estar implantado programas sociais para atender a população com acesso aos serviços de educação, saúde e geração de emprego e renda.
Sisfron â Já o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann disse que o governo federal está deslocando cerca de 250 agentes da Força Nacional para reforçar a vigilância das fronteiras, além de ampliar o número de policiais federais na região. Nova ação conjunta com a FAB (Força Aérea Brasileira) deve ser desencadeada nos próximos dias.
âSerão ações conjuntas que incluirão o monitoramento de pequenas aeronavesâ, afirmou o ministro, defendendo a liberação de mais recursos para o desenvolvimento do Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras).
Fonte: Sapucaia News
2018-08-15 23:31:52