Uma pesquisa realizada na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) está desenvolvendo um biofilme a partir de escamas e pele de tilápia, produto que pode servir para envolver salsichas, linguiças, salames e outros embutidos.
O estudo, fomentado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de MS (Fundect), é curioso em vários sentidos, principalmente por procurar inovação dentro da indústria alimentícia, visando aumento nutricional e mais biossegurança no setor.
Além disso, a pesquisa propõe também um avanço para diminuir impactos ambientais e econômicos em Mato Grosso do Sul.
Por utilizar os resíduos da indústria de pescado, destaca-se a possibilidade do surgimento de novas empresas fundamentadas no reaproveitamento, gerando possibilidade de emprego e renda.
Segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), o Estado é o quinto maior produtor de tilápia do Brasil, com 32,2 mil toneladas, e o segundo maior exportador da espécie do Brasil, com receita de US$ 4,2 milhões.
“Conforme a produção de tilápia cresce em Mato Grosso do Sul, maior é o volume de resíduos, então é importante buscar formas de aproveitamento em novos produtos e fazer isso de uma forma mais saudável para o consumidor. Estamos em busca de um invólucro semelhante ao que tem no mercado, porém com possibilidade de incorporação de várias outras propriedades para que seja melhor aproveitado pelo nosso corpo”, destaca Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect.
O projeto é intitulado “Desenvolvimento de produtos alimentares inovadores, ricos em proteínas, a partir de pescado e microalgas, utilizando estratégias de biorrefinaria e de bioeconomia circular” é coordenado pelo professor doutor Marcelo Fossa da Paz.
Vantagens
O estudo avança também na extração do colágeno da pele da tilápia para incorporar às membranas.
Marcelo Fossa da Paz destaca que o colágeno de pescado tem vantagens em relação ao bovino por ser mais digerível e solúvel, permitindo a preservação da estrutura nativa das macromoléculas na formação dos filmes.
Segundo o pesquisador, o projeto será concluído com a elaboração de linguiças embaladas com membranas feitas a partir da combinação do colágeno do pescado com a quitosana, mas a equipe seguirá pesquisando a incorporação de nutrientes, microrganismos probióticos e suplementos alimentares.
“As possibilidades são muitas porque, a partir dessa formulação, podem ser incorporados vários elementos que vão melhorar a qualidade nutricional. A gente pode somar a proteína da ora-pro-nobis, por exemplo, e alguns óleos essenciais que podem trazer proteção para o alimento e aumentar o tempo de vida por impedir a oxidação das gorduras da carne”, explica.
Além de testar microrganismos já conhecidos pela ciência, a equipe buscou novas fontes no Cerrado sul-mato-grossense.
Três espécies de microalgas, ainda não identificadas, foram coletadas em córregos afluentes do Rio Dourados e apresentaram potencial biotecnológico promissor, tanto na formação do biofilme quanto como suplemento nutricional.
Pesquisadores
O projeto conta com a participação dos professores doutores Rodrigo Simões Ribeiro Leite, da UFGD, Gustavo Graciano Fonseca, atuando da Universidade de Akueyri, Islândia Viðskipta- og raunvísindasvið / School of Health, Business and Science, e William Renzo Cortez-Vega, atuando da Universidade Federal do Amazonas.
Também fazem parte da equipe Cleber Aparecido de Sousa Silva, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da UFGD, além de Isabelle Moreira Souza Ferreira e Letícia Bueno De Moura, mestrandas do mesmo programa.
A pesquisa ainda tem reforço dos graduandos do curso de Biotecnologia da UFGD, Érick Henrique Duarte Acosta, Isadora Pereira Catenaci, Lauzézio Souza Barcelos Neto, Nayara Pereira Espindola, Sabrina dos Santos Nascimento, Ester Zeidler Deechen e Gabriel De Souza Bagnara.