Durante a pandemia, Mato Grosso do Sul registrou o aumento no número de microempreendedores individuais (MEIs). No início de março, eram 138.320 pessoas empreendedoras formalizadas no Estado.
De março a agosto, o número saltou para 151.593 MEIs â são 13.273 empreendedores a mais no período. Seja por necessidade ou por vontade de ter o próprio negócio, o crescimento chega a 19% no comparativo anual.
Em agosto do ano passado, o Estado tinha 127.174 MEIs. Já em agosto deste ano, o número de pessoas que empreendem em MS chega a 151.593, aumento de 19,20%.
Os dados são do Portal do Empreendedor e levam em consideração o saldo total de empresas ativamente abertas, já descontando as que deixaram de existir.
Segundo a analista do Sebrae-MS, Vanessa Schmidt, houve crescimento na taxa de abertura de registros também, e um dos fatores que pode ter induzido a isso foi o cenário de demissões no início da pandemia de Covid-19.
âAlém disso, alguns informais perderam a renda. Então houve uma migração dessas pessoas em uma tentativa de empreender. Muitos porque não conseguiram emprego, outros nem tentaram se recolocar por causa da pandemia. O crescimento é positivo desde que esses empreendedores se preocupem em se manter no mercado. As pessoas muitas vezes investem por terem habilidade naquele segmento, mas é fundamental que se capacitem para gerir o negócioâ, explicou Schmidt.
A analista ainda reforçou que o Sebrae oferece cursos gratuitos com todo o pacote para uma gestão do negócio e acredita que há espaço para que esses novos empreendedores se mantenham no mercado.
âA gente começa a ver um cenário de estabilidade, o número de demissões também é menor. Começamos a ver as pessoas estabilizando suas rendas, as vendas aumentaram e o consumo também. Isso tudo deve impactar positivamente na economia e para esses novos empreendedores também, que começam a ampliar a quantidade de clientesâ, ressaltou a analista.
EMPRESíRIOS
Conforme dados da Receita Federal, no primeiro semestre de 2019, foram registrados 16.392 novos microempreendedores, no mesmo período de 2020, foram 17.550, crescimento de 7%.
De acordo com a analista do Sebrae, os setores que mais abriram novas empresas foram: comércio varejista de vestuário e acessórios; cabeleireiros e manicures; construção e pequenos reparos; e alimentação.
Há quatro meses, Elaine Ferreira, 31 anos, formalizou sua loja de roupas e acessórios para bebás, a Lain”s Baby.
âEu saí de um serviço em que trabalhei por quase trás anos. Uns meses depois, decidi ir atrás de fornecedores de roupas para bebás, sempre tive o sonho de trabalhar com isso. Comecei a vender e, aos poucos, foi aumentando. Então vi que realmente poderia realizar meu sonho de virar uma microempreendedora. Agora estou montando meu espaço um pouco maior, com um cantinho com poltronas para as mamães amamentarem. Nesta pandemia não está fácil, com tudo subindo, preços altos e fornecedores até mesmo fechando. Estou trabalhando com vendas pelo WhatsApp e entregas em domicílioâ, finalizou.
Quem também se formalizou recentemente, no más passado, foi o engenheiro de software Rillian Diello, 29 anos. Ele tinha um contrato normal de trabalho (CLT) e resolveu ser microempreendedor para trabalhar de forma remota.
âEu me formalizei para trabalhar para uma empresa de São Paulo, uma empresa que está implantando regime de home office. Para ter uma maior liberdade, eu senti que o MEI era mais flexível em relação a horário, onde trabalhar etc. Eu fiz tudo de forma digital, a abertura e todos os trâmitesâ, explicou.
OUTRAS POSSIBILIDADES
De janeiro a agosto, o número de MEIs cresceu em 15.066, saindo de 136.527 e chegando aos atuais 151.593. O microempreendedor tem diferentes possibilidades de atuação, como alimentação, varejo, tecnologia, comunicação etc.
A artesã Renata Barros Vasconcelos, 31 anos, é nordestina e mora em Campo Grande desde de 2013. Em janeiro deste ano, abriu o CNPJ.
Ela conta que começou por hobby e, atualmente, já conseguiu expor em feiras nacionais e em lojas de shoppings da Capital.
âTrabalho com crochá no nicho de decoração. Hoje faço sousplat, porta-guardanapos, jogos de tapetes e, í s vezes, faço amigurumis [bichinhos de crochá]. Mas hoje minha paixão é a mesa posta. O artesanato na minha vida vem de berço, aprendi a bordar e a crochetar aos 13 anos. Decidi trazer o crochá para minha vida profissional desde que minha filha Nicoly nasceu, porque optei por ser mãe em tempo integral. E pensei: “Trabalhar em casa com o que amo e cuidar da minha filha será uma ótima opção”. Antes eu era consultora de vendas no comércioâ, considerou Renata.
Fernando Humbertto, de 24 anos, atua no setor financeiro com a comercialização de consórcios, seguros de vida e empréstimos consignados.
âTrabalho com vendas desde adolescente, com 14 anos vendia bizukinho [um tipo de picolé no saquinho] na rua pra ter dinheiro pra comprar salgado na escola. Vendi alfajor, perfumes, até entrar no mercado de trabalho tradicional. Tomei a decisão de virar MEI porque queria abrir a minha empresa e trabalhar com mais liberdade, para oferecer o melhor serviço aos meus clientes. E ainda poder ensinar e dar oportunidade para outras pessoas no mercado de trabalhoâ, concluiu.
Fonte: Súzan Benites/ Correio do Estado
2020-09-08 10:13:00